sexta-feira, 25 de março de 2011

Os dialetos do Português (1)

OBJETIVO
Identificar os principais dialetos do Português.

Os dialetos do Português

As incontáveis possibilidades de uso que qualquer língua oferece à comunida-
de que a usa são a melhor prova de que ela é um sistema, sim, mas aberto e em
construção.
Na realidade, a língua apresenta certas regularidades que todo falante deve seguir,
sob pena de não criar um enunciado reconhecido como da língua e de não ser compre-
endido.
São exemplos sempre repetidos: você não pode usar  o artigo em outro lugar que
não seja anteposto ao substantivo a que ele se refere (* Poeta o é famoso); não pode usar
uma preposição depois do termo regido (*Nós gostamos muito sorvete de.) .
Um exemplo a mais: no português, é obrigatória alguma marca de plural, para fazer
a concordância de número. Essa marca pode variar, conforme os usos dos grupos soci-
ais. Um grupo diz:
Os meninos doentes choravam sem parar.
Outro grupo fala:
Os menino (ou minino) doente chorava sem parar (ou pará).
Mesmo com sotaques diferentes, que ocorrem tanto na primeira quanto na segunda
frase, os dois grupos serão entendidos por  todos, uma vez que estão usando o mesmo
sistema da língua. Mas, se não houvesse marca alguma de plural, em qualquer  das falas,
os interlocutores não entenderiam o real significado da frase: o  de que eram pelo menos
dois meninos doentes e chorando sem parar.

Então, a língua tem regularidades, um sistema a ser seguido. Mas, como é um
sistema aberto, a língua oferece inúmeras possibilidades de variação de uso, que
criam, junto com o contexto, interações sempre novas e irrepetíveis.


As variações da língua são de duas ordens:1- as variantes comuns a um grupo, chamadas dialetos;
2- as variantes do uso de cada sujeito, na situação concreta de interação, cha-
madas registros.


Ciúme
Eu tinha 9 anos quando a gente se encontrou: o Ciúme e eu. Era verão. Eu dormia no mesmo quarto que a minha irmã. A janela estava aberta. De repente, sem nem saber direito se eu estava acordada ou dormindo, eu senti direitinho que ele estava ali: entre a cama da minha irmã e a minha. A noite não tinha lua nem tinha estrela; e quando eu fui estender o braço para acender a luz, ele não quis “Me deixa assim no escuro.”
Que medo que me deu. Senti ele chegando cada vez mais perto. Fui me encolhendo. “Pega a minha irmã” eu falei. “Ali, ó, na outra cama. Eu sou pequena e ela já fez 14 anos, pega ela. Ela é bonita e eu sou feia; o
meu pai, a minha mãe, a minha tia, todo o mundo prefere ela: por que você não prefere também?”
Mas o Ciúme não queria saber da minha irmã, e eu já estava tão espremida no canto (a minha cama era contra a parede) que eu não tinha mais pra onde fugir, então eu pedia e pedia de novo:
“Ela é a primeira da turma e eu tenho horror de estudar, olha, ela tá logo alí; e ela é tão inteligente pra conversar! Ela diz poesia, ela sabe dançar, o meu pai tá ensinando inglês e francês pra ela e diz que pra mim não vale a pena porque eu não presto atenção, então você pensa que eu não vejo o jeito que o meu pai olha pra ela quando todo o mundo diz que encanto de moça que é a sua filha mais velha? Pega, pega, PEGA  ela!” “Não. Eu quero é você.” E o Ciúme disse aquilo com uma voz tão calma que eu fui me acalmando. E o medo meio que foi passando.
“Bom” eu acabei suspirando “pelo menos tem alguém que gosta mais de mim do
que dela.”
E aí o vento do mar entrou pela janela, soprou o Ciúme e apagou ele feito vela.

NUNES, Lygia Bojunga. A  troca e a tarefa. In Tchau. Rio de Janeiro: Agir, 1985. p.51.

Lygia Bojunga nasceu em Pelotas, em 1932. Durante a infância e a adolescência,
viveu em várias cidades brasileiras. Hoje, divide seu ano entre o Rio de Janeiro e
Londres. É uma das mais consagradas autoras da literatura infantil e juvenil brasileira,
com  muitos prêmios também no exterior. Sua linguagem é bastante peculiar, apre-
sentando um coloquialismo marcante em toda a narrativa. Inicialmente artista de
teatro, suas narrativas freqüentemente apresentam peças e “cenas” teatrais, outras
foram transpostas por ela mesma para o palco. Algumas de suas obras: Angélica, A
casa da madrinha, Corda bamba, Os colegas, O sofá estampado, A bolsa amarela, O
livro, Tchau.


ATIVIDADES

A – Pela leitura do texto, o que leva você a garantir que a narração não é relato de uma
“história verdadeira”, um relato de vida?
B – O narrador pode ser ou não personagem da história. Qual é o caso, na
narrativa anterior?
C – A opção por um ou outro tipo de narrador traz procedimentos e resultados diferentes
para a história.
a) Em que pessoa a história é narrada?
b) Essa escolha torna a narrativa mais ou menos subjetiva? Justifique sua resposta, com
passagens do texto.
D – Indique que outras personagens aparecem nesse trecho e qual a sua importância
para a narrativa.
E – Por meio de que argumento ou expressões a narradora cria um ambiente indefinido,
propício ao aparecimento do Ciúme?
F – Indique os elementos que marcam a passagem do tempo.
H – Por que, quanto mais a narradora fala, mais o Ciúme quer ficar com ela, e não
com a irmã?
G – Por que o Ciúme aparece entre as duas camas?
I – Por meio de que recursos, usados pelo autor, você sente o medo da menina?

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